25 maio 2005

Organização e o Bicho Papão

Ontem, numa aula do IBP, falamos sobre igreja e organização, e o professor Fernando Almeida apontou para o facto de que organização em si não é má, desde que a organização sirva o organismo. A partir do momento em que o organismo passa a servir a organização, é que passa a ser mau.

Pois é, analisando a igreja à minha volta, passado algum tempo os papéis invertem-se sempre. A organização começa a ser o mais importante. Não tenho nada contra a organização, devemos ser pessoas organizadas. O tipo de organização que se impõe no organismo é que está mal. Uma igreja não é uma empresa. Em vez desta organização hierárquica legalista, porque não ter uma organização natural, como num ecosistema? Como numa colmeia, ou num formigueiro?

6 comentários:

Nuno Barreto disse...

Pois, era bom termos mais exemplos de organismos que funcionam de uma forma organizada sem uma organização institucionalizada. Se calhar temos de ser nós a criar um exemplo ;)

Fernando Almeida disse...

Em parte a dicotomia com que te debates, parece-me ser um ténue reflexo da dicotomia entre o o real e o ideal. A "Igreja Universal" (o ideal) e a "igreja local" (o real).
Mas argumentando em prole de uma tensão construtiva, eu diria que a Igreja é aquela comunidade incarnacional de que falamos ontem. A Igreja é composta por homens e mulheres redimidas; e ao mesmo tempo, é um organismo que está para além do humano conseguir obter. A Igreja é ideia de Deus e por Ele é mantida numa unidade para além de explicações humanas. Então, à semelhança de Cristo, que na Sua Pessoa reunia duas naturezas... a Igreja na sua natureza como organismo, reúne as duas realidades. O segredo está em manter esta "tensão" construtiva, sem que nos deixemos levar pelo idealismo, nem estarmos prontos para "baixar os braços" ante a realidade.

Nuno Barreto disse...

Sim, compreendo. Mas será que a igreja local não poderia ser mais organismo e menos instituição? Será mesmo necessário tanto institucionalismo? Para mim a grande questão é como deve ser organizada a igreja local. Penso que podemos melhorar muito aí.

Fernando Almeida disse...

Eu concordo contigo. Mas não no sentido de favorecer um em relação ao outro. A nossa tentação é argumentar no sentido dos extremos. I.e. se agora temos um institucionalismo exagerado (e não discordo disto), vamos argumentar em prole do organismo.
O que eu estou a dizer vai no sentido de um equilibrio, que não é fácil de manter, reconheço, mas que creio ser necessário, para que a Igreja não se torne em algo etéreo... e idealista que não se possa objectivar.

Nuno Barreto disse...

Se o oposto de institucionalismo for anarquia, concordo absolutamente que não é por aí. Penso que um organismo pode ser organizado sem que seja institucionalizado. A igreja tem de ser organizada. O método de organização da igreja indicado é que discordo que seja a instituição. A única vantagem que vejo nesse modelo é a representatividade perante os organismos oficiais (Estado, etc), coisa que pessoalmente dispenso.

O facto de a igreja ter uma organização orgânica não implica ausência de liderança ou de crenças comuns. Implica apenas bastante flexibilidade de mudança, e adaptação ao meio ambiente em que se insere.

Quando penso em igreja-organismo, penso em algo como um formigueiro, ou uma colmeia. Algo que tem ordem e regras, sem que essas precisem estar escritas numa declaração de fé. Há líderes, e elementos com tarefas específicas, e eles são aceites de uma forma natural por todos.

Utópico? Talvez. Mas parece estar a funcionar com alguns de nós, que temos dimensões menores. E quando/se nos tornarmos maiores, podemos sempre fazer como as abelhas - dividem a colmeia e criam duas novas.

Unknown disse...

Nuno, neste teu último comentário tocas num ponto importante que é o do tamanho da igreja local. Parece-me que nenhuma igreja local de tamanho significativo subsiste sem institucionalização mas como evitar que essa institucionalização se sobreponha à igreja como organismo é o que todos pretendemos saber.