21 junho 2005

Jogos de Poder

Hoje tive um encontro com dois cristãos fanáticos. O discurso deles, resumido, foi que têm tido muitas experiências religiosas, que estão num nível superior devido a essas experiências, e mostraram um grande apreço por títulos. Isto no meio de algumas barbaridades, por falta de melhor palavra, como dizer que o segredo para um casamento feliz é ler o livro de Cantares de Salomão. Gostava de falar um bocado contra as 3 coisas que mais me aborreceram no meio da conversa.

Eu sou o meu título

Eu sou pastor, ou evangelista, ou bispo, ou apóstolo. E isso é que é importante. Até eu ter um título não sou nada. E se uma pessoa com um título diz algo, então é porque é mesmo assim. Mas que ser mentecapto começou com este tipo de pensamento? Em que se alguém tem o título, eu tenho de aceitar automaticamente o que ele diz? Ou ainda pior, que eu devo procurar vir a ter um título, porque aí serei alguém? Faz-me lembrar aqueles que se dão ares de importante e que querem ser tratados por doutores. Isso não é o comportamento que um cristão deve ter. O alvo do cristão deve ser servir, não ganhar fama/poder. E cada cristão tem a responsabilidade de verificar aquilo que é dito pelos outros pela Bíblia.

As minhas experiências validam a minha fé

Basicamente, a minha fé é medida proporcionalmente em relação à quantidade de visões/sonhos/profecias/coloquem-experiência-sobrenatural-preferida-aqui que eu tenho. Quanto mais eu tiver esse tipo de coisas, mais fé tenho. Portanto, eu não vou simplesmente procurar saber qual a vontade de Deus, eu vou procurá-la mas tem de ser de uma forma sobrenatural. Parece-me a mim que aquele que crê sem ver tem maior fé do que o que crê tendo visto. Ou seja, se Jesus me aparecer à frente, é fácil eu crer que ele existe. É mais difícil crer em Jesus sem nunca ter uma visão. Mas não, essas pessoas julgam que quanto mais fogos de artifício tiver a festa, mais profunda ela é.

Honra e Riquezas

Esta é a melhor. Honra e Riquezas é o que eu vou receber porque eu todos os dias faço e aconteço e vou até à baixa a pé cochinho às arrecuas. Eu sou tão bom, e faço tanta coisa, que Deus vai atulhar-me de honras e riquezas. Mas que pessoa desprovida de toda a réstea mais ínfima de conhecimento pode pensar que esta é a atitude de um cristão, e que é suposto nos andarmos a gabar disso tudo? Segundo a Bíblia, deveriamos antes pensar que somos apenas servos inúteis, que não fazemos mais do que aquilo que o mestre nos diz. Ou pior, nem servos inúteis somos, pois nem o que ele nos diz para fazer, fazemos, pelo menos na sua plenitude.

São este tipo de alimárias que me tiram do sério. Provavelmente estou a usar de algum exagero, mas penso que percebem que é apenas para mostrar o ridículo deste tipo de afirmações. Porque a verdade é que todos somos iguais, seja qual for a nossa função, e que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos, sem nos gabarmos do que fazemos. E quando o que mostramos é o contrário, algo está muito mal.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sabes o que te digo, Nuno?
Perante tudo isso que tu escreves, e que eu poderia acrescentar algumas coisas provenientes de outras conversas, apenas há um caminho: TEMOS DE CADA VEZ MAIS OLHAR PARA JESUS. JESUS! Ele sim é o exemplo do que devemos ser.
Jesus amou sem esperar nada em troca, lavou os pés aos seus discípulos, misturava-se com os rejeitados pela sociedade, NUNCA realçou o seu título de Filho de Deus para conseguir alguma coisa (e Ele sim, tinha um título importante), NUNCA!
Cada vez mais tenho olhado para Jesus e chego à conclusão de como os seus filhos estão longe de ser como Ele.
A minha conclusão é a de que precisamos de manter os nossos joelhos dobrados diante do Pai, para que ele nos esvazie do que não interessa em nós e nos encha do Seu Filho.

Jorge Oliveira disse...

...E quem não souber ler (o livro de Cantares) não pode ter um casamento feliz?
Apetece-me rir e chorar.

Nuno Barreto disse...

É mesmo isso, Paula. Temos mesmo de ter os nossos olhos em Jesus, porque senão a coisa ainda dá mais para o torto.